Livro: Eu e Outras Poesias
Autor: Augusto dos Anjos
Editora: L&PM pocket
Essa capa modernista mostra que o conteúdo do livro não é de beleza fácil de assimilar, essa face deformada e tingida com tons pesados e atônitos deixa um ar de incerteza e melancolia traduzindo a visão distorcida que o autor tem do mundo.
O livro traz poesias melancólicas e com um conteúdo bem original e macabro, usa uma linguagem orgânica, muitas vezes cientificista e agressivamente crua, mas sempre com ritmados jogos de palavras, ideias, e rimas geniais, que causavam repulsa na crítica e no grande público da época de seu lançamento em 1912.
Quem gosta de originalidade e peças que fujam do corriqueiro não pode deixar de ler essa incrível obra. Segue abaixo o soneto “Versos Íntimos” que faz parte do livro e que ilustra a originalidade de Augusto dos Anjos:
Versos Íntimos:
“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a vespera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
O beijo, amigo, é a vespera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
Augusto dos Anjos - Eu e Outras Poesias
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